Corte no dedo: O que fazer?
Os ferimentos corto-contusos (FCC) nos dedos são um dos principais acidentes domésticos do dia-a-dia. Além disso, a quarentena ao qual fomos submetidos devido à pandemia do corona vírus (c0vid 19), também aumenta as chances de acidentes domésticos envolvendo objetos ou utensílios pérfuro-cortantes. Os cortes podem ocorrer nas mais variadas situações envolvendo facas, copos e louças quebradas.
Essas feridas costumam sangrar muito no momento do acidente, pois as mãos e os dedos são regiões muito vascularizadas. O recomendável, logo após o acidente, é lavar a ferida com água corrente e estancar o sangramento com um pano limpo pressionando a ferida. Deve-se evitar compressão circular excessiva devido ao risco de comprometer a circulação do dedo. Após essas medidas iniciais, o ideal é que o paciente procure um pronto-socorro de ortopedia para uma avaliação mais detalhada.
Lesão de tendões e nervos
O FCC ou corte pode comprometer somente a pele e o subcutâneo e nesta situação de menor gravidade, a limpeza cirúrgica sob anestesia local e a sutura de pele resolvem o problema.
Quando há perda de movimento do dedo após o corte, deve-se suspeitar de uma lesão tendínea. Se houver perda da capacidade de flexionar ou “dobrar”o dedo, o tendão flexor foi comprometido e o corte se localiza na face palmar do dedo. Se houver perda da capacidade de extender ou “esticar”o dedo, o tendão extensor foi comprometido e o corte se localiza na face dorsal do dedo.
Um outro aspecto de fundamental importância é a avaliação da sensibilidade do dedo. Os nervos digitais dos dedos são frequentemente acometidos nos cortes de dedos e o sintoma típico é dormência numa das bordas dos dedos, associado a sensação de choques na região do corte. Cada dedo é suprido por 2 nervos digitais que são responsáveis pela sensibilidade das bordas radial e ulnar do dedo. Se o nervo digital radial for lesado, a borda radial do dedo ficará dormente. Se o nervo digital ulnar for lesado, a borda ulnar do dedo ficará dormente. Em cortes mais extensos, os 2 nervos podem ser lesados em conjunto com os tendões flexores.
Na vigência de uma lesão de tendão ou nervo, o paciente deve ser encaminhado a um especialista em mão (cirurgião de mão) para tratamento adequado das lesões. Se houver uma boa infra-estrutura hospitalar no pronto-socorro e equipe de retaguarda disponível de cirurgia da mão, o paciente pode ser operado na urgência. Infelizmente, essa não é a realidade na maioria dos hospitais do Brasil e nessa situação o melhor é lavar, suturar a ferida e imobilizar. O paciente deverá ser encaminhado dentro de 1 semana para agendamento da cirurgia definitiva: tenorrafia e microneurorrafia.
Um atraso demasiadamente prolongado (maior que 3 a 4 semanas) na avaliação e na cirurgia, pode comprometer o resultado final da movimentação e sensibilidade do dedo.
Um tendão flexor lesado tende a encurtar e entrar em contratura miostática. Além disso, o sistema de túneis ou polias pode estreitar e impedir a passagem do coto de tendão inchado.
Um nervo digital lesado também retraí e as bordas dos cotos lesados degeneram, criando um defeito de nervo muito grande para ser reparado de maneira direta. Nessa situação, a neurorrafia direta fica inviabilizada e um enxerto de nervo deve ser interposto para possibilitar a reparação do nervo. A utilização de um enxerto de nervo de interposição significa uma incisão cirúrgica a mais no paciente, além de provocar uma área de dormência numa outra parte do corpo onde a sensibilidade é menos importante que a sensibilidade do dedo lesado. Funcionaria como uma troca vantajosa para o paciente. Por esta razão, é preferível o reparo direto do nervo lesado sempre que possível.
No período pós-operatório, o paciente permanece com a mão e os dedos imobilizados por uma tala ou órtese, por um período que varia de 2 a 6 semanas de acordo com a gravidade da lesão e as estruturas acometidas. Também é fundamental o início precoce da terapia ocupacional para reabilitação adequada do dedo comprometido.