Problemas mais frequentes: Artrite e Artrose

O que é artrose e o que é artrite? São a mesma coisa?

A artrose ou osteoartrose nada mais é que um processo de desgaste da cartilagem hialina que recobre as articulações do tipo sinovial (articulações dos dedos, punho, cotovelo, joelho, quadril, etc). Essa cartilagem tem a função de minimizar o atrito entre os ossos das articulações que são submetidas a cargas cíclicas inúmeras vezes ao longo de uma vida. No entanto, a própria cartilagem no exercício de sua função sofre um desgaste natural. Seria como o desgaste usual da borracha de um pneu de carro. A cartilagem possuí uma espessura considerada normal para cada idade e cada articulação específica do corpo. Essa espessura é máxima em adultos jovens e com o passar dos anos ela sofre um “desgaste natural”, assim como a borracha do pneu de um carro. Nas articulações com artrose avançada, as áreas de maior atrito podem ficar totalmente sem cartilagem, com exposição de osso subcondral. Imagine uma articulação com áreas de exposição óssea, sem cobertura de cartilagem, submetida a movimentação e carga repetidas vezes. Isso causa um atrito anormal entre os ossos, levando a variados graus de artrite ou inflamação, isto é, dor , inchaço e limitação da amplitude de movimentação.

Portanto, a artrite ou osteoartrite se refere a um processo inflamatório de uma articulação, cursando com variados graus de inchaço, dor e aumento de calor local. É muito comum a coexistência da artrose e da artrite na mesma articulação, pois a artrose é a causa mais frequente da artrite.

Portanto, a artrose e a artrite não são a mesma patologia, mas estão presentes com frequência na mesma articulação.

Nas mãos, existem exemplos bem típicos. Na população mais idosa, é frequente a queixa de inchaço e deformidade nos dedos. Isso é causado pela artrose das articulações interfalangeanas proximais (IFP) e interfalangeanas distais (IFD). São os famosos nódulos de Bouchard e Heberden, respectivamente. Quando existe a queixa dolorosa concomitante, podemos afirmar que as articulações estão com artrose e artrite.

Por outro lado, em pacientes mais jovens e até mesmo em crianças, podem ocorrer episódios de dor, inchaço e vermelhidão em uma ou mais articulações dos dedos não relacionados a artrose. São as artrites inflamatórias ou infecciosas.

Quais as causas da artrose? Posso prevenir ou evitar que ela ocorra?

Ela pode ocorrer por 3 causas principais:

  • processo natural de envelhecimento: essa é a causa mais comum e infelizmente não pode ser evitada. Seria como a borracha de pneu de um carro bem alinhado e balanceado que vai gastando com a rodagem do veículo. No entanto, vale ressaltar que esse processo de desgaste pode variar de paciente para paciente conforme sua genética e seus hábitos de vida. Se o condutor utilizar seu carro de maneira “civil”, o pneu pode durar cerca de 40.000 km. Se o motorista conduzir seu carro de maneira mais agressiva, os pneus vão desgastar bem mais rápido. O sobrepeso também afeta negativamente as articulações, aumentando o ritmo de desgaste por excesso de carga. Portanto, hábitos saudáveis de vida e o controle do peso corporal podem aumentar a vida útil de nossas articulações.
  • por desequilíbrio ou desalinhamento mecânico da articulação: são causadas por traumas que lesam os ligamentos ou a cartilagem articular diretamente. Isso provoca um desalinhamento ou degrau articular que acarreta uma distribuição anormal da carga pela articulação com áreas de hiperpressão e desgaste da articulação. Seria como um carro que sofreu uma colisão ou passou sobre um buraco que desalinhou ou desbalanceou os pneus. Se isso não for corrigido, ocorrerá um desgaste prematuro e desigual da borracha em áreas específicas. Isso pode ocorrer em fraturas peri-articulares com desvio ou degrau articular residual não tratadas. Também ocorre em lesões ligamentares que desalinham ou provocam instabilidade articular. Essas causas de artrose podem ser tratadas se houver correção adequada e em tempo hábil do desequilíbrio mecânico da articulação..
  • doenças inflamatórias sistêmicas: em geral são causadas por doenças auto-imunes, onde o nosso próprio corpo produz anti-corpos que agridem a cartilagem articular direta ou indiretamente. Nesses casos, o tratamento da doença de base ajuda a diminuir seus efeitos sobre as articulações.

Qual o tratamento para a artrose? Precisa operar?

Nem toda a artrose é de tratamento cirúrgico. Na maioria dos casos de artrose inicial e intermediária, uma boa reabilitação associada a exercícios físicos e medicações podem manter as articulações funcionais e indolores por longos períodos.

Existem medicações que ajudam a aliviar os sintomas (dor e inchaço) relacionados a artrose e a artrite, dentre eles os anti-inflamatórios não hormonais e os corticoesteróides são os mais utilizados. A diacereína é a única medicação que comprovadamente atua na artrose, não como um regenerador de cartilagem, mas como um modulador do desgaste. O sulfato de condroitina é o medicamento mais popular no tratamento da artrose e pode ajudar no controle da dor, mas não atua diretamente sobre a cartilagem.

Atualmente, não existe nenhuma medicação que regenere a cartilagem gasta ou lesada. O que existe é muita propaganda e estudos financiados por grandes farmacêuticas com resultados enviesados.

Nos casos mais avançados de artrose, o tratamento deve ser individualizado:

• Qual ou quais articulações estão comprometidas?

• Qual o grau de demanda funcional do paciente?

• O paciente sente muita dor?

• As deformidades secundárias afetam sobremaneira a função do paciente no seu dia-a-dia?

Todas essas questões devem ser consideradas ao se optar por um tratamento cirúrgico, que em algumas situações, pode ser considerado de grande porte e implica em riscos consideráveis caso haja alguma complicação, como por exemplo nas artroplastias de quadril e joelho.

Tratamento Cirúrgico

Nas mãos, os procedimentos mais frequentes indicados são as artroplastias de substituição e as artrodeses.

Na artroplastia, a articulação desgastada é substituída por uma nova articulação sintética que pode ser de silicone, metal, pirocarbono ou cerâmica. A artroplastia com prótese de silicone é uma boa indicação nos casos de artrite reumatóide avançada das articulações metacarpo-falangeanas (MF) e interfalangeanas proximais (IFP). As artroplastias de metal, pirocarbono e cerâmica podem ser indicadas em casos de artrose pós-traumática das articulações MF e IFP, porém os principais ligamentos e tendões flexores devem estar íntegros, pois essas próteses não possuem muita estabilidade (não-constritas).

Na artrodese, a articulação é fixada definitivamente numa posição neutra e alinhada. Ela é geralmente indicada nas articulações mais distais dos dedos (IFP e IFD) quando existe muita deformidade e dor. Nessas situações, o paciente tem que fazer uma escolha: uma articulação dolorosa e deformada, mas ainda com alguma mobilidade versus uma articulação alinhada e indolor, porém sem mobilidade.

Do ponto de vista prático, as próteses são preferidas nas articulações MF, tendo em vista que a perda da mobilidade destas articulações causa grande impacto funcional nas mãos. Nas articulações das pontas dos dedos (IFD), a artrodese promove resultados mais satisfatórios e duradouros que as próteses, pois a perda de movimento nestas articulações tem pouco impacto funcional nas mãos. Nas articulações intermediárias dos dedos (IFP), a opção entre a prótese e a artrodese deve ser individualizada caso a caso e depende de múltiplos fatores, tais como: qual dedo acometido, grau de demanda funcional do paciente, idade, causa da artrose, etc.

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